Mudando de faixa - Motoboys

Assuntos diversos, relacionados ou não ao motociclismo

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Jovi
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Mônica Manir - O Estado de S.Paulo

Nos versos de raps e funks, a adrenalina total dos motoboys em São Paulo

Acorda aí, guerreiro, que o
dia já raiou
Vamos mostrar agora qual
que é o seu valor
Antes de começar faça
a sua oração
Faça o sinal-da-cruz para
fazer jus
Pensar nas ruas
pedindo a Jesus
A proteção que nos conduz
A entrada nesse túnel e
no fim achar a luz

Depois de 20 anos na garupa de Jesus, Kuriaki quer saltar no ponto. Garupa de motoca periga acabar. E profissão de motoboy não rende mais como antes. Em 1988, quando começou no ofício escondido da mãe, era bem remunerado. Recusou contratos de R$ 1.500, trabalho filé, cinco a seis entregas por dia, no máximo. Poucos tinham coragem de frisar o chão. Hoje tem muito moleque aventureiro e tiozinho aposentado. Aceitam ganhar R$ 50 por dia sem cálculo de trampo, das 6h às 18h, das 20h à madrugada. Tiram no acelera, torcem o cabo, principalmente a garotada de 18. Kuriaki está soltando da rua.

Poder voltar pra casa,
cumprir com o meu ofício
Poder entrar na goma, dar
um beijo,
um abraço na mulher e nos
meus filhos

Com a grana de motoboy e a ajuda da mulher (ex-digitadora dinâmica, atual secretária do ramo da arquitetura), comprou a goma, um apartamento na Vila das Mercês, zona sul de São Paulo. Financiado, mas comprou. Tem dois meninos, Kurydan - ligação direta de Kuriaki com Daniela - e Victor Kuriaki. Os moleques curtem a profissão do pai, mas ele quer mudar de rumo. Fez a letra de Motoboys, uma das trilhas do Motoboy Festival 3ª edição, que começou na quinta e termina hoje. Tem tocado percussão com o MC Sombra, ex-S.N.J., com o Maionezi do Sp Funck, com o Oscar do grupo Bro?z, com o Melwin e o Anão. A única pessoa que está mesmo apoiando o filho a passar do asfalto pra música é d. Cinira. Mãe é mãe.

Cachorro sempre louco,
tatuado no braço
A moto é extensão entre
mim e o asfalto
Coloquei o meu CR,
a luva e o capacete
No caminho, vou lembrando,
a moto me guiando
O mundo está girando, o
tempo está passando
Respeito é respeito, mas
ninguém está lembrando

Kuriaki é extensão da moto. Vão juntos à padaria da esquina, ao fim do túnel, à pqp. Só se largam à beira do campo, na hora do futiba. A CG 150 e ele. Só na adrenalina, os dois. Turbinados. Impacientes. Insones. Gostam do cheiro um do outro. Aroma de graxa, de poluição. A pele dos dois deu uma encaroçada. Filtro solar é luxo. Alimentação é luxo. Motoboy guarda o dinheiro da refeição e come um dog. Fuma para perder a fome. Kuriaki tem 35 anos, faz aniversário em agosto, mas diz que tem 36. Motoboy sempre anda um passo à frente. Na pressa.

Olho por olho, dente por dente
Marginal Tietê,
Castelo Branco,
Vila Prudente
Pinheiros, Bandeirantes
Está morrendo muita gente
É acidente sobre acidente
Olha, motorista, e vê se
não vacila
Em cima dessa moto há um
pai de família
Que segue sua rotina como
manda o dia-a-dia

Fique claro que Kuriaki não é cai-cai. Não vive tomando capote. Também fique claro que já arrancou muito retrovisor de carro no pé. Mas aconteceu de um dia, parado no farol, o carro vir por trás e jogá-lo longe. Ganhou um pino no joelho direito. O rasgo na perna esquerda, que alcançou o osso, veio do senhor que abriu a porta no meio do trânsito. Os 17 pontos no peito do pé esquerdo foi um pé-de-breque que provocou. Pé-de-breque é ala B, motoca inexperiente, que fica se aventurando na rua. O pé-de-breque se assustou, fez uma manobra atrasalada e acabou prensando o pé de Kuriaki entre o estribo dele e a roda dianteira do outro. Estourou a carne. Por baixo da barbicha tem outra cicatriz. Kuriaki esteve a 5 milímetros de perder o beiço com uma linha de pipa que lhe cruzou a cara. Mais tarde, ensinou o caçador de pipas a empinar moto. O moleque até virou motoboy, mas desistiu. Não agüentou.

Temos que falar tudo na lata
Somos cachorros,
não vira-latas
Se for pelo errado, eu sumi
na fumaça
Motoboys, motoboys,
sempre junto, nunca sós
Esta é nossa verdade, moto é
a nossa voz

125 motivos para correr

Ele já se esqueceu de quem é Rivail da Silva Menezes Junior. Encarnou Junior13, que remete ao artigo 113, de insanidade mental. Junior é louco porque faz muitas coisas ao mesmo tempo. É uma pessoa coletiva. Anda de moto, de skate, é cozinheiro, barman, garçom, cantor. Formou um grupo com outros dois motoboys, o Carlinhos e o Renato. Daí o CR13 mc''''s, cuja base é rap, mas cujo complemento de som é banda. Confessa que o nome foi uma boa coincidência. Hoje menos, mas, na década de 80, quem não tivesse um CR, um jaco (jaqueta) California Racing, não era cachorro louco. Vai mandar e-mail pro alemão dono da grife. Quem sabe ele não paitrocina 125 Motivos de Correria, carro-chefe do grupo.

Pode crer, se liga então
Como é difícil acelerar nesse
trânsito f*dido
Mas acelero, no corredor
Tirando fina do carro do
doutor
Que coisa triste, nem imagina
Vi um irmão deitado na pista
e todos param, esquecem a
pressa
Esperando que o irmão
saia dessa
Resgate chega, sem espanto,
mano tá bem
Está respirando, vou nessa

Na terça-feira Junior13 acordou com o pé direito. Má sorte. Quando passava pelo túnel Rebouças, um carro entrou na faixa da esquerda sem dar seta. Junior13 vinha pelo meio. Não deu tempo nem de buzinar. O rapaz do carro disse que, quando Junior13 gritou, a moto já estava no ponto cego. Junior13 rebateu que cego estava o rapaz que não tinha olhado pelo retrovisor. O rapaz disse que olhou. O pé direito de Junior13 doía. Pra azar do motorista, passaram uns 20 motoboys que estavam na manifestação do dia 18 e reconheceram o 13, autor do rap que tocava nos carros de som em frente da prefeitura. Junior pediu pra não se inflamarem, estava tudo certo, o rapaz deu assistência. Motoboy faz aquele fervo todo porque é complicado. Só entende quem está no trânsito. Se o motorista dá uma seta e entra, o motoca até releva. Mas, pô, entrar sem seta é o fim. Tem que ficar atento. Uma piscada, a vida pode estar acabada. Verso bom pra outra música. Pediu pra uma amiga anotar.

Mas o governo poderia
interagir
Não criando taxas,
não, não assim
Estou feliz, eu tenho
um emprego
Mas não tenho nem
décimo-terceiro
Estou de boa, tô na pegada
Mas não tenho nem
carteira assinada
Plano de saúde, seguro
de vida
Segurança pra minha família
É, isso seria bom
Mas não desistam,
Quem sabe um dia vai
melhorar,
E nossas vidas, pode mudar

Faz cinco anos que Junior13 é motoboy esporádico. Quando precisa de uma fonte de renda imediata, sobe e desce da Avenida Paulista com malotes do Banco do Brasil. Mas não gosta de trabalhar com moto. Gosta de andar de moto, é pioio do asfalto, a STX 200 Sundown voa liso na pista. Ainda está no zero a zero no quesito fratura. Na sua idéia, para virar motoboy, ou o figura é acomodado, ou não é normal. O sangue do cara é gasolina. Tem que ser uma pessoa que crie um personagem próprio, uma máscara, porque o perigo é muito grande.

Os novos requisitos de segurança aumentaram o piro na cabeça do motoca: dispositivos retro-refletivos e fluorescentes no capacete, no colete e no baú, além de uma película refletiva na placa e um possível aumento do DPVAT, fora a proposta de proibir carona. Dar de frente com os cavalos de aço da Rocam (Rotas Ostensivas com Apoio de Motocicletas) cobrando medidas arrepia a alma. Junior13 quer corredor nas artérias da cidade. O da 23 de Maio foi cancelado por motivo de lentidão na avenida. Ficou injuriado. Moto não faz trânsito, moto costura trânsito. Quem faz trânsito são os carros.

Ei, cachorro louco,
loucos motoboys
Todo dia eu corro um risco

Trilha feminina

O batidão Amor de Motoboy tocou ontem e tocará hoje nas eliminatórias do concurso da Musa Motoboy e do Motoboy Top Model do festival. Para ser Musa, basta ter mais de 18 anos. A vencedora será premiada com uma motocicleta 0 km e participará do ensaio de uma revista masculina. Já o candidato do sexo masculino precisa trabalhar como motociclista profissional, apresentar cópia da carteira de habilitação e fotos coloridas de rosto e corpo. Vai fatalmente passar por Paquitão. Motoboy legítimo, digno de selo do Inmetro, é do tipo cicatrizado. O pó de arroz é fuligem.

A vantagem de ir na moto
Agora é revelada
Meu amor só usa
Gasolina aditivada
Aditivada
Aditivada
Aditiva, aditiva
Que eu fico mais facinha

Amor de Motoboy foi feito pelas amigas Thais e Flavia, inspiradas por um amigo e pelo irmão cachorro louco de Flávia. A música ganhou um concurso de música funk do curso de teatro que freqüentam. As duas não dirigem carro, moto muito menos. Mas apreciam a categoria pela união. Junior13 diz que as motos zeradinhas e mais caras é que fazem sucesso com as meninas. Mas elas sobem na aparência. É por isso que muitas morrem. Quem sabe mesmo torcer o cabo na segurança, garante Junior13, é o motoca da periferia.
Código de Trânsito Brasileiro, Art. 29, XII, § 2º. Respeitadas as normas de circulação e conduta estabelecidas neste artigo, em ordem decrescente, os veículos de maior porte serão sempre responsáveis pela segurança dos menores, os motorizados pelos não motorizados e, juntos, pela incolumidade dos pedestres.

[]´s Jovi
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wellington.nogueira
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o que é comentário e o q é rap/funk?...
Ou melhor... isso é uma música só?
Wellington Nogueira
57 45 4C 4C 49 4E 47 54 4F 4E
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Jovi
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wellington.nogueira escreveu:o que é comentário e o q é rap/funk?...
Ou melhor... isso é uma música só?
:roll: :lol: :lol: :lol:

Vai saber... 8)
Código de Trânsito Brasileiro, Art. 29, XII, § 2º. Respeitadas as normas de circulação e conduta estabelecidas neste artigo, em ordem decrescente, os veículos de maior porte serão sempre responsáveis pela segurança dos menores, os motorizados pelos não motorizados e, juntos, pela incolumidade dos pedestres.

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rafaeladvogado
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joviman escreveu: Junior13 diz que as motos zeradinhas e mais caras é que fazem sucesso com as meninas. Mas elas sobem na aparência. É por isso que muitas morrem. Quem sabe mesmo torcer o cabo na segurança, garante Junior13, é o motoca da periferia.
heheeheheeheheheee o "motoca da periferia" com certeza pilota com MUITAAA segurança hehehehee
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