Fonte: http://www2.uol.com.br/bestcars/colunas ... querem.htmTite Simões escreveu:De uns tempos para cá me transformei naquilo que os jornalistas chamam de “fonte”, um sujeito que tem as respostas para determinadas perguntas. Minha especialidade com segurança de motociclistas se tornou uma fonte para colegas da imprensa.
Dias atrás recebi a ligação de uma jornalista de um grande veículo de comunicação (prefiro omitir nomes). A pergunta veio em uma semana dramática para os paulistanos, porque foram dois acidentes fatais por dia, engrossando as estatísticas macabras. Ela perguntou algo como:
— Por que morrem tantos motociclistas?
Antes de responder, pensei naquelas centenas de vezes que discursei sobre a educação de trânsito, fiscalização, faixas segregadas, falta de formação, baixo nível de escolaridade das vítimas, etc., etc. e mais etc.! Só que me cansei de divagar sobre esse assunto e dei a resposta que sempre quis, mas nunca tive coragem:
— Morrem porque querem!
Diante do susto natural da jornalista, repeti a resposta e ela reforçou que seria uma matéria publicada, se eu não queria rever a resposta. Respondi que não, que poderia deixar inclusive entre parênteses, citando meu nome como fonte.
Bom, a matéria saiu sem minha declaração... porque a coragem que tive para assumir aquilo que autoridades tentam disfarçar, a colega não teve para publicar. Assim, as argumentações foram todas aquelas que todo mundo sabe na ponta da língua, mas que são todas um enorme disfarce para a mais óbvia das realidades: esses motociclistas morrem porque querem — e ponto final.
Claro que há os acidentes, que devem ser classificados como tal quando nenhum dos agentes envolvidos teve a intenção de provocá-lo. Mas acidentes são raros em São Paulo. O mais comum é a mais elementar das causas: a negligência, associada à prepotência, atributos de personalidade que imperam nos motociclistas da capital paulista. Se há negligência, está clara a intenção por trás da ação.
Ah, mas o motorista mudou de faixa sem olhar! Sim, mas o motociclista estava rodando a 90 km/h no corredor de carros quase parados, com uma moto sem freios, com pneus carecas, e usava um capacete desafivelado. Isso pode ser caracterizado como acidente? O choque talvez, mas a consequência não! O óbito terá sido causado por pura negligência.
Diariamente eu levo fechadas de motoristas nas mais criativas variações. Tem fechada pela esquerda, pela direita e até dos dois lados ao mesmo tempo. Só que rodo a uma velocidade compatível com os outros veículos, minha moto tem freios eficientes e pneus novos. Porque eu não quero me matar.
Non ducor, duco
O lema da cidade de São Paulo expressa uma atitude tão típica de motociclistas e motoristas paulistanos que soa como profecia: não sou conduzido, conduzo! Ninguém me diz onde, nem como devo conduzir, mas conduzo à minha maneira, sem regras, sem sensatez, nem ordem. Minha lei é meu umbigo!
São raríssimos os casos — mas bota raro nisso, tipo que precisa de lente de aumento para encontrar — em que a vítima fatal de um acidente de moto foi totalmente inocente. Casos como linha de pipa com cerol, caminhão sem freio na descida, bêbado que fura o semáforo são raros, mas adquirem muito destaque pelo dolo envolvido.
Só que acidentes fatais que são contabilizados — e que vejo, porque estou diariamente nas ruas — são provocados por absoluta negligência dos motociclistas. Daí meu desabafo do “morrem porque querem!”. Porque querem rodar no corredor a 90 km/h. Porque querem rodar com pneu careca. Porque querem usar um capacete de R$ 50 e, pior, desafivelado. Porque querem rodar na calçada a 50 km/h. Porque querem pular o canteiro central de uma grande avenida.
Resumindo, morrem porque querem!
Soma-se essa conduta ao triste fato de as vítimas fatais se encontrarem, na maioria, entre 18 e 25 anos e temos mais uma trágica coincidência estatística. A adolescência, período que vai dos 12 aos 18 anos, tem como característica a prepotência, comportamento que faz o indivíduo acreditar que as coisas ruins só acontecem com os outros. Como a maioria das vítimas é do sexo masculino e a adolescência do homem costuma se prolongar — até os 25 anos ou mesmo mais, segundo as mulheres —, isso explica boa parte dessas vítimas.
Basta conferir qual a idade de alistamento militar para entender como o Estado pode aproveitar a prepotência a seu favor. Na faixa dos 18 aos 25 anos, o soldado vai para o front achando que nada de ruim vai acontecer com ele, até um projétil .50 atravessar sua cabeça. Portanto, temos a fórmula ideal para que tudo de errado dê certo: sensação de prepotência + negligência = morte súbita!
Ou seja, morrem porque querem!
E querem saber? Não vejo a menor chance para tal situação melhorar. Pelo contrário, a tendência é piorar com a entrada cada vez maior de novos motociclistas. Mas também não pensem que o problema é limitado aos motoboys ou fretistas.
É bom esclarecer que existem os motoboys e existe o comportamento motoboy — o que os especialistas chamam de arquétipo, uma repetição do mesmo comportamento. Há donos de motos esportivas ou luxuosas, caríssimas, que agem da mesma forma que o típico motoboy — e que, depois de um acidente fatal, é transformado em vítima. Os rachas na estrada, os atalhos pela calçada, a alta velocidade nos corredores mostram que os “playboys” também morrem porque querem.
Responda sinceramente: se fosse chamado pelas forças armadas para defender seu país no front de batalha, de fuzil na mão, você iria? Eu não! Não quero morrer tão cedo nem entrar no fogo cruzado. Por isso não existe exército de soldados quarentões — a gente sabe que as coisas ruins também acontecem conosco.
Discordo...
Sinto muito, mais uma vez eu discordo do Tite... o trânsito esta insuportável...
Desde meu acidente em agosto passei a reparar ainda mais as pessoas que passam no semáforo vermelho, como alguns sabem foi o meu caso e não minha culpa, só que eu estava de moto e o furador de semáforo de ônibus...
Então dizer que estou até hoje com as pernas no estado em que estão por que eu quiz... fala sério...